Título da Obra: “A Viagem do Elefante”
Autor: José Saramago
Edição nº 1
Editora: Editorial
Caminho
Data de
publicação:
outubro de 2008
Classificação da
obra:
Ficção romanesca/ narrativa histórica
Data do início
da leitura:
23/12/2011
Data do fim da
leitura:
09/01/2012
“A Viagem do Elefante”
A
ação passa-se em meados do século XVI. O rei D. João III de Portugal, casado
com Dª Catarina de Áustria, decide oferecer a seu primo, o arquiduque
Maximiliano de Áustria, genro do imperador Carlos V, um elefante que há dois
anos se encontra em Belém, vindo da Índia. Chamava-se Salomão e, por alguns caprichos reais e absurdos
desígnios, teve de percorrer mais de metade da Europa.
O que se passa nessa longa e atribulada
viagem, as emoções e pensamentos que Salomão consegue despertar naqueles que o
rodeiam, permitem ao leitor usufruir de uma fabulosa navegação literária. É uma
reflexão sobre o sentido da vida, ou seja, o porquê de um paquiderme – que se
limita a seguir o caminho para onde o levam – deixar tão profundas marcas…
Todas estas descobertas são bons estímulos para
uma agradável leitura.
A minha personagem preferida
A minha personagem preferida nesta obra é o
elefante Salomão, ou Solimão. É um elefante, simplesmente. Come, dorme, mas,
fundamentalmente, anda, anda, anda; caminha, caminha, caminha.
Embora não intervenha diretamente na ação, Salomão
é, no fundo, o seu motor, de tal forma que, durante todo o livro, há uma série
de comportamentos de outras personagens influenciados pela presença de tão imponente
figura.
Por outro lado, todas as suas supostas
reflexões e angústias são, de certa forma, descodificadas pelo narrador, que
nos apresenta, muitas vezes, hipóteses sobre a perspetiva de Salomão acerca dos
acontecimentos que se vão sucedendo. Chega até a ironizá-los graças à posição
que um “mero” elefante assume face a eles, embora nunca deixe de encará-lo com
um animal e, como tal, irracional.
Assim sendo e baseando-me no ponto de vista
do narrador, Salomão acaba por ser a personagem mais pura e sensata de todas
elas, quer pertençam à realeza, quer não. Visto pela maior parte daqueles com
quem se cruzou como uma novidade assombrosa, conseguiu marcá-los ao ponto de
fazer Subhro recear a sua separação, servir de milagre em Trento, comover até
às lágrimas os couraceiros, o comandante e os carregadores, ser adorado pelos
austríacos por ter salvo uma menina, e fazer chorar Dª Catarina de Áustria,
aquando da sua partida de Lisboa e, principalmente, após a sua morte.
A minha opinião sobre a obra
Escrita
dez anos após a atribuição do Prémio Nobel, A Viagem do Elefante
mostra-nos um Saramago em todo o seu esplendor literário.
Há quem diga que a carícia da morte nos
devolve uma leveza e um certo humor que perdemos com o passar dos anos. A
verdade é que, neste livro, escrito em condições de saúde
muito precárias, não sabemos o que mais admirar: o estilo pessoal do autor,
exercido ao nível das suas melhores obras; uma combinação de personagens reais
e inventadas que nos faz viver simultaneamente na realidade e na ficção; um
olhar sobre a humanidade em que a ironia e o sarcasmo, marcas da lucidez
implacável do autor, se combinam com a compaixão solidária com que José
Saramago observa as fraquezas humanas.
Segundo Pilar del Río, “pontuado de acordo com as regras de Saramago, os diálogos intercalam-se na narração, um todo que o leitor tem de organizar de
acordo com a sua própria respiração”, A
Viagem do Elefante é uma obra incrível escrita com base em
escassos elementos e, sobretudo, com uma poderosa imaginação de ficcionista.
A história serve como pano de fundo para que
José Saramago exercite o seu mais requintado humor e a sua mordaz ironia à
burocracia de Estado e à corrupção intrínseca dos indivíduos. Mais do que isso,
esta obra é toda ela uma metáfora da vida: uma longa viagem sob as intempéries.
Para além de que, segundo o autor, o facto de as patas dianteiras de Salomão
terem sido cortadas para exercerem uma função extremamente banal, é também a
metáfora da “inutilidade da vida”, ou seja, aquelas patas que tanto andaram
foram ceifadas, o que demonstra que, talvez, “não conseguimos fazer da vida
mais do que o pouco que ela é”.
Sobre o autor
José
Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de
novembro de 1922. Contudo, a maior parte da sua vida decorreu na capital.
Fez
estudos secundários que, por dificuldades económicas, não pôde prosseguir.
Foi
serralheiro mecânico, desenhador, funcionário da saúde e da previdência social,
tradutor, editor, jornalista.
A
partir de 1993 passou a habitar na ilha de Lanzarote, no arquipélago das
Canárias (Espanha).
Em 1998
foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura.
De
entre as suas obras mais aclamadas destacam-se: Memorial do Convento, A
Jangada de Pedra, O Evangelho Segundo
Jesus Cristo, Ensaio Sobre a Cegueira,
Ensaio Sobre a Lucidez, As Intermitências da Morte, Caim…
Faleceu
a 18 de junho de 2010.
SARAMAGO, José, A Viagem do Elefante. 1ª Edição,
Editorial Caminho, 2008 (adaptado)
Trabalho elaborado pela aluna Mara Sousa.