sexta-feira, 2 de março de 2012

A viagem do Elefante de José Saramago



Título da Obra: “A Viagem do Elefante”
Autor: José Saramago
Edição nº 1
Editora: Editorial Caminho
Data de publicação: outubro de 2008
Classificação da obra: Ficção romanesca/ narrativa histórica
Data do início da leitura: 23/12/2011
Data do fim da leitura: 09/01/2012


“A Viagem do Elefante”

A ação passa-se em meados do século XVI. O rei D. João III de Portugal, casado com Dª Catarina de Áustria, decide oferecer a seu primo, o arquiduque Maximiliano de Áustria, genro do imperador Carlos V, um elefante que há dois anos se encontra em Belém, vindo da Índia. Chamava-se Salomão e, por alguns caprichos reais e absurdos desígnios, teve de percorrer mais de metade da Europa.
O que se passa nessa longa e atribulada viagem, as emoções e pensamentos que Salomão consegue despertar naqueles que o rodeiam, permitem ao leitor usufruir de uma fabulosa navegação literária. É uma reflexão sobre o sentido da vida, ou seja, o porquê de um paquiderme – que se limita a seguir o caminho para onde o levam – deixar tão profundas marcas…
Todas estas descobertas são bons estímulos para uma agradável leitura.


A minha personagem preferida
A minha personagem preferida nesta obra é o elefante Salomão, ou Solimão. É um elefante, simplesmente. Come, dorme, mas, fundamentalmente, anda, anda, anda; caminha, caminha, caminha.
Embora não intervenha diretamente na ação, Salomão é, no fundo, o seu motor, de tal forma que, durante todo o livro, há uma série de comportamentos de outras personagens influenciados pela presença de tão imponente figura.
Por outro lado, todas as suas supostas reflexões e angústias são, de certa forma, descodificadas pelo narrador, que nos apresenta, muitas vezes, hipóteses sobre a perspetiva de Salomão acerca dos acontecimentos que se vão sucedendo. Chega até a ironizá-los graças à posição que um “mero” elefante assume face a eles, embora nunca deixe de encará-lo com um animal e, como tal, irracional.
Assim sendo e baseando-me no ponto de vista do narrador, Salomão acaba por ser a personagem mais pura e sensata de todas elas, quer pertençam à realeza, quer não. Visto pela maior parte daqueles com quem se cruzou como uma novidade assombrosa, conseguiu marcá-los ao ponto de fazer Subhro recear a sua separação, servir de milagre em Trento, comover até às lágrimas os couraceiros, o comandante e os carregadores, ser adorado pelos austríacos por ter salvo uma menina, e fazer chorar Dª Catarina de Áustria, aquando da sua partida de Lisboa e, principalmente, após a sua morte.

A minha opinião sobre a obra
Escrita dez anos após a atribuição do Prémio Nobel, A Viagem do Elefante mostra-nos um Saramago em todo o seu esplendor literário.
Há quem diga que a carícia da morte nos devolve uma leveza e um certo humor que perdemos com o passar dos anos. A verdade é que, neste livro, escrito em condições de saúde muito precárias, não sabemos o que mais admirar: o estilo pessoal do autor, exercido ao nível das suas melhores obras; uma combinação de personagens reais e inventadas que nos faz viver simultaneamente na realidade e na ficção; um olhar sobre a humanidade em que a ironia e o sarcasmo, marcas da lucidez implacável do autor, se combinam com a compaixão solidária com que José Saramago observa as fraquezas humanas.
Segundo Pilar del Río, pontuado de acordo com as regras de Saramago, os diálogos intercalam-se na narração, um todo que o leitor tem de organizar de acordo com a sua própria respiração”, A Viagem do Elefante é uma obra incrível escrita com base em escassos elementos e, sobretudo, com uma poderosa imaginação de ficcionista.
A história serve como pano de fundo para que José Saramago exercite o seu mais requintado humor e a sua mordaz ironia à burocracia de Estado e à corrupção intrínseca dos indivíduos. Mais do que isso, esta obra é toda ela uma metáfora da vida: uma longa viagem sob as intempéries. Para além de que, segundo o autor, o facto de as patas dianteiras de Salomão terem sido cortadas para exercerem uma função extremamente banal, é também a metáfora da “inutilidade da vida”, ou seja, aquelas patas que tanto andaram foram ceifadas, o que demonstra que, talvez, “não conseguimos fazer da vida mais do que o pouco que ela é”.


Sobre o autor
José Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo, no dia 16 de novembro de 1922. Contudo, a maior parte da sua vida decorreu na capital.
Fez estudos secundários que, por dificuldades económicas, não pôde prosseguir.
Foi serralheiro mecânico, desenhador, funcionário da saúde e da previdência social, tradutor, editor, jornalista.
A partir de 1993 passou a habitar na ilha de Lanzarote, no arquipélago das Canárias (Espanha).
Em 1998 foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura.
De entre as suas obras mais aclamadas destacam-se: Memorial do Convento, A Jangada de Pedra, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Ensaio Sobre a Cegueira, Ensaio Sobre a Lucidez, As Intermitências da Morte, Caim
Faleceu a 18 de junho de 2010.

SARAMAGO, José, A Viagem do Elefante. 1ª Edição, Editorial Caminho, 2008 (adaptado)



Trabalho elaborado pela aluna Mara Sousa.

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