segunda-feira, 11 de abril de 2011

Uma terça-feira banal

1º Lugar: David Rafael Borges Monteiro, nº 6, 10ºB


Era uma terça-feira banal…Uma chuva suave acariciava o seu rosto, como um dia ele haveria de acariciar o dela.
Valentim sentiu novamente aquele chamamento inexplicável, como se a voz lhe sussurrasse ao ouvido’’Vem, a tua felicidade espera-te!’’.
Entrou no café ‘’Glamour’’, atraído por aquela força. Mas nada. Frustração. Apenas a empregada ucraniana habitual e uma moça concentrada no mesmo livro, de capa castanha, que ele também já vira, por acaso, na semana anterior: ‘’Romeu e Julieta” de William Shakespeare. Desiludido por aquilo que lhe parecia não ser nada de especial, regressou a casa.
No dia seguinte, ao ler descontraidamente o jornal, deparou com uma foto da jovem que vira na véspera. Era, afinal, segundo a notícia, uma conceituada actriz, das melhores peças de teatro representadas na Europa e o livro que se encontrava a ler era, precisamente, sobre uma peça que iria estrear no grande auditório do teatro de Vila Real, na semana seguinte.
Uma curiosidade desmedida, sem sentido, invadiu-o e, sem saber ao certo porquê, quis voltar a vê-la. Dirigiu-se ao café ‘’Glamour’’ com a esperança de a encontrar. Valentim era um rapaz um pouco tímido e discreto, mas tinha uma grande paixão: o Teatro. Não a encontrando no “Glamour”, esperou pela estreia da peça ‘’Romeu e Julieta’’ para, então, a ir ver. Mal a reconheceu, vestida de Julieta, mas sentiu-se tão emocionado com a peça, que até chorou.
Quando, mais tarde, os seus passos se dirigiram para o café ‘’Glamour’’, não estranhou a ansiedade que sentia. Ao vê-la, o seu coração como que saltou, dentro do seu peito.
Chamava-se Felicidade. Era uma actriz muito conhecida na Europa, mas uma rapariga muito só. A jovem levantou levemente os olhos, quando ouviu a porta do café a abrir-se. Estava ali, novamente, aquele belo jovem que ela já vira na semana anterior. Parecia buscar algo com o olhar e ela disfarçou, olhando, de novo, para o livro de Shakespeare.
Pouco depois, Valentim saiu. Felicidade ficou triste. Aquele jovem de olhos inquisitivos, parecendo procurar o mundo, intrigava-a. Também ela sentia o desejo de o conhecer, mas tinha de estudar a peça.
Nessa mesma noite, ele voltou ao café ‘‘Glamour’’. Quando Felicidade o viu entrar, também, o seu coração bateu mais forte.
Valentim dirigiu-se á mesa dela e sentou-se. Teve algum receio, mas pensou: ‘’se o meu silêncio não lhe disser nada, então as minhas palavras serão inúteis’’.
Felicidade estendeu-lhe a mão que ele aceitou, carinhosamente. Quando os seus olhos se cruzaram, compreenderam-se, finalmente. Era amor!
Ficaram inseparáveis durante várias luas. Felicidade, todavia, tinha de regressar a Paris, onde a mãe a esperava, mas Valentim não podia deixar o seu emprego, nem o pai e, por isso, a separação tornou-se inevitável.
Era uma terça-feira banal, chuvosa, quando Felicidade abriu a porta da sua casa, em Paris e viu um intenso raio de sol: Era Valentim. Ali estava ele! Deixara amadurecer o sentimento, tirara um curso intensivo de teatro, vendera a casa e partira com o seu pai, à procura da felicidade. E encontraram-na ambos. Valentim e o próprio pai, pois também ele pôde conhecer a mãe dela, com quem, de imediato, se identificou.
Era, afinal, uma terça-feira especial. Descobriram que se o amor fosse uma arma, destruiria o mundo inteiro, mas como era amor puro, só traria FELICIDADE.
E foi assim que, como dizia o seu escritor favorito, Shakespeare, Valentim e Felicidade “viveram felizes neste palco que é a vida”.

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